Desafios do Crédito no Agronegócio em 2022

Desafios do Crédito no Agronegócio em 2022

O crédito é fundamental para o desenvolvimento do agronegócio, para que os produtores possam obter recursos para o plantio, compra de insumos, fertilizantes, defensivos, sementes, investir em maquinário, tecnologia e melhorar a sua produtividade.

A concessão de crédito exige cuidados por parte dos financiadores e das empresas de insumos, com a adoção de instrumentos corretos, para que haja segurança jurídica, processos e decisões corretas, com as melhores taxas, prazos e garantias.

É por isso que nós preparamos esse artigo, para abordarmos os principais desafios do crédito no agronegócio em 2022, ano que começou com notícias e eventos muito relevantes para toda a economia global.

Aumento dos custos de produção

Os preços dos fertilizantes apresentaram um aumento relevante ao longo do ano passado e no primeiro trimestre de 2022. Segundo dados do Instituto de Economia Agrícola de São Paulo, o preço pago pelo produtor rural pelo formulado 04-20-20 passou de R$ 1.981,8/tonelada em janeiro de 2021 para R$ 4.425,4/tonelada em dezembro de 2021, aumento expressivo de 123,3%.

Além disso, existe risco de desabastecimento do insumo, especialmente no segundo semestre, quando os estoques das indústrias podem diminuir em função do conflito Rússia-Ucrânia.

Por isso, é importante estarmos atentos a essa questão no processo de concessão de crédito, pois os produtores poderão enfrentar dificuldade para aquisição dos insumos, o que pode levar a uma diminuição da aplicação de dosagem, e o resultado será uma queda da produtividade. Esse é um ponto de atenção especial para essa safra.

Figura 1 – Evolução dos preços dos fertilizantes
Fonte: elaboração própria a partir de dados do Instituto de Economia Agrícola (IEA-SP)

Segundo dados do IMEA-MT (Instituto Mato-Grossense de Economia Agropecuária),até o início de março/22, a expectativa de custo de produção do hectare de soja na Safra 2022/23 é 61% mais elevado do que custo da Safra 2021/22.

No ciclo anterior, o custo para se produzir 1 hectare, com estimativa de produtividade de 60 sacas por hectare, foi de R$ 3.728,70, o que representa R$ 62,10 por saca. Já no novo ciclo, até o momento, a expectativa é de um custo de R$ 5.999,8 por hectare, o que representa custo de praticamente R$ 100 por saca.

Isso significa que os produtores rurais irão precisar de mais caixa para financiar a sua safra, o que indica maior demanda por crédito advindo de instituições financeiras e operações como o barter, prazo safra e adiantamento.

Figura 2 – Custos de produção da soja no MT: Safra 21/22 x Safra 22/23
Fonte: elaboração própria a partir de dados do IMEA-MT.

Queda da rentabilidade dos produtores rurais

Devido ao aumento dos custos de produção, naturalmente, espera-se uma rentabilidade mais baixa no próximo ciclo 2022/23, mesmo com os aumentos dos preços das commodities das últimas semanas, devido às incertezas nos mercados globais e também à quebra de produção na América do Sul.

Para exemplificar, demonstrarmos a seguir a expectativa de rentabilidade da soja no Mato Grosso, em 2 cenários: 1) Cenário de produtividade “normal”, com 60 sacas por hectare e 2) Cenário de produtividade “reduzida”, com 45 sacas por hectare.

No primeiro caso, a rentabilidade, tanto para os produtores com cultivo em área 100% própria, quanto para os produtores com cultivo em área 100% arrendada, está positiva, com margem de 85,1% sobre os custos no primeiro caso e margem de 37,8% para os arrendatários.

Já no segundo caso, com uma eventual redução de produtividade – seja devido a um cenário climático adverso, seja devido à menor dosagem de adubação -, a rentabilidade é positiva para os produtores com 100% em área própria (margem de 38,8% sobre os custos),mas fica bem próxima do ponto de equilíbrio (breakeven) para os produtores com área 100% arrendada.

Portanto, o ponto de atenção fica para os produtores rurais com áreas arrendadas, que podem ter dificuldades de caixa num cenário de eventual queda de produtividade, devido aos elevados custos de produção da Safra 2022/23.

Figura 3 – Expectativa de Rentabilidade da Produção de Soja 2022/23 no MT
Fonte: elaboração própria a partir de dados do IMEA-MT.

Quebra da Safra Verão no sul do Brasil

Devido ao cenário de estiagem provocado pelo La Niña, que diminuiu o volume de chuvas na região sul do Brasil e no sul do Mato Grosso do Sul no período entre dezembro e fevereiro, os produtores rurais dessa região tiveram sérias dificuldades com a produtividade, com quebras que variaram entre 20% a 70% da produtividade inicial estimada, na média, especialmente no noroeste do Rio Grande do Sul e Paraná.

Abaixo, mostramos o impacto da estiagem sobre a rentabilidade da produção de soja no Paraná, num cenário considerado de “quebra média” e num cenário de “quebra severa”.

Observa-se que, no cenário de “quebra média”, em que a produtividade foi de 42 sacas por hectare, com receita operacional de R$ 7.700/hectare, a rentabilidade apresentou uma forte redução em relação ao cenário inicial estimado. Porém, tanto para os produtores com cultivo com área própria, quanto os produtores com cultivo em área arrendada, a rentabilidade permaneceu positiva nesse cenário.

Já para os produtores que apresentaram “quebra severa”, com produtividade de 18 sacas por hectare, a rentabilidade fica negativa tanto para os produtores com área própria, quanto para os produtores com área arrendada (margem negativa de, respectivamente, 21,47% e 48,46%).

Vale lembrar que a maior parte da área de soja na região do Brasil possui contratação de seguro rural, o que certamente irá mitigar os impactos financeiros devido à quebra de safra (vide informações no Atlas do Seguro Rural do Ministério da Agricultura).

Figura 4 – Rentabilidade da soja no Sul do Brasil – Safra 2021/22
Fonte: elaboração própria a partir de dados da CONAB

As revendas de insumos que atuam na região têm relatado que os produtores com quebra de até 30% na produtividade terão condições de liquidar seus contratos de financiamento; já os produtores com quebra mais severa, terão dificuldades de honrar os compromissos financeiros, podendo haver atrasos e renegociações.

Aumento das taxas de juros

Na última semana, o COPOM (Comitê de Política Monetária) do Banco Central elevou mais uma vez a taxa básica de juros, a SELIC, para 11,75%, como uma forma de estabilização de preços, para conter a inflação galopante, que tem desafiado as economias de todo o mundo.

Isso representa uma elevação do custo de captação de crédito para os mutuários, em toda a cadeia de produção. Então, certamente teremos, ao longo de 2022, taxas de juros mais elevadas do que as taxas observadas em 2021, o que representa aumento das despesas financeiras e, consequentemente, queda da rentabilidade da atividade produtiva.

Esse aumento, somado ao movimento de alta dos custos de insumos, representa um impacto importante sobre as margens dos produtores, das revendas e das agroindústrias.

Outro ponto que não pode ficar de fora na análise é a diminuição do apetite de investidores por ativos de renda variável, como o agronegócio, para o investimento em títulos de renda fixa atrelados às letras do Tesouro (títulos públicos com renda fixa),o que provoca um arrefecimento do fluxo de investimento do mercado de capitais para o agronegócio. Ou seja, isso indica tendência de menor liquidez e taxas mais elevadas na Safra 2022/23.

Figura 5 – Evolução da taxa SELIC fixada pelo COPOM (% a.a.)
Fonte: elaboração própria a partir de dados do Banco Central

Volatilidade Cambial

Em 2022, até o momento, tivemos valorização de 15% do real em relação ao dólar.

Isso acontece devido à maior entrada de investimento estrangeiro no país (maior influxo de dólares),valendo-se do aumento da taxa básica de juros e também como uma alternativa à fuga de capitais da Rússia, que se desloca para outros países em desenvolvimento, do bloco do BRICS.

Figura 6 – Evolução da taxa de câmbio (R$/dólar)
Fonte: elaboração própria a partir de dados do Banco Central

O ponto de atenção fica para as commodities dolarizadas, como soja, milho, algodão, café e açúcar, que podem ter os preços menores em moeda nacional. Esse movimento de valorização tem se intensificado nos últimos dias, já que existem fatores imponderáveis nesse momento de incerteza da economia global.

Então, a questão cambial deve ser olhada com cuidados por parte dos financiadores; nessas circunstâncias, as operações de hedge por parte dos produtores são extremamente importantes e recomendadas para proteção da renda.

Conclusões

O momento atual é de atenção.

É certo que o cenário é positivo para o agronegócio, mas a próxima safra deve ter as menores margens dos últimos anos, devido ao aumento dos custos de produção e da captação de funding por todos os stakeholders da cadeia.

E isso naturalmente exige um processo de gestão mais cauteloso pelos operadores de crédito rural, para evitar perdas e inadimplências, num momento de alta exigência de caixa e de necessidade de otimização de uso dos recursos, com uso de ferramentas e conhecimento adequado.

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