O ano de 2021 foi marcado por muitos desafios e mudanças para as empresas, governos, consumidores e investidores em todos os setores da economia, seja devido aos aspectos sociais e comportamentais provocados pela pandemia, seja por diversos choques provocados em preços chaves da economia, como taxa de juros, câmbio, inflação, renda e emprego.
No agronegócio, não foi diferente. Apesar de algumas particularidades que tornam o setor mais específico e com proteções que o tornam menos vulnerável em alguns aspectos, é inegável que tivemos importantes desafios em 2021 e que devem continuar em 2022.
Nesse artigo, iremos falar sobre 7 desafios e tendências do agronegócio para as quais você deve estar atento em 2022.
Aumentos de custos de produção
Existe uma forte pressão provocado pelo aumento dos custos das matérias-primas utilizadas na agricultura, como fertilizantes, defensivos e sementes.
Segundo dados da CONAB (Companhia Nacional de Abastecimento),por exemplo, houve aumento de 73% no preço do formulado 00-20-20 pelo produtor do Mato Grosso entre janeiro e dezembro/21 (a cotação subiu de R$ 1.738/tonelada para R$ 3.000/tonelada nesse período).
Esse aumento dos custos dos insumos aconteceu por fatores como: a) desvalorização cambial, já que o Brasil importa cerca de 80% da matérias-primas para produção de fertilizantes e defensivos e b) Queda de produção e exportação nos países produtores, devido a fatores como aumento do preço do gás natural.
Ressalta-se que esse aumento pode provocar uma queda de aplicação de fertilizantes em 2022 por parte dos produtores, o que terá um impacto na queda de produtividade nos próximos 2 e 3 anos.
Para os pecuaristas, também existe uma pressão dos custos de produção, devido ao aumento do preço da ração.
Segundo relatório Boletim Focus do Banco Central de 24/12/21, a expectativa do câmbio para final de 2022 é de R$ 5,60/dólar, praticamente o mesmo patamar de 2021; então, o custo de importação deve continuar elevado ao longo de 2022 e esse problema dificilmente será resolvido no curto prazo, já que exige o desenvolvimento de um plano nacional para autonomia na extração de matéria-prima para insumos agrícolas, devido ao alto volume de investimentos exigido.
Integração do agro com mercado de capitais
Existe uma tendência cada vez maior da integração das empresas do agronegócio, como revendas de insumos, indústrias de insumos, agroindústrias, tradings e cooperativas se integrarem ao mercado de capitais, através de repasse de recebíveis como a CPR (Cédula de Produto Rural) e duplicatas, em operações estruturadas como CRA (Certificado de Recebíveis do Agronegócio) e FIDCs (Fundos de Investimento em Direito Creditório).
Nos últimos 2 anos, o Brasil apresentou marcos legais importantes nesse sentido, como a Lei 13.986/20, que trouxe importantes alterações na Lei da CPR, e o Programa Iniciativa do Mercado de Capitais (IMK) do Banco Central, a criação do FIAGRO (Fundo de Investimento nas Cadeias Produtivas Agroindustriais) que, conjuntamente, trazem mais segurança e transparência para fomentar o investimento no agronegócio.
O volume de CPR registrado em entidades registradoras de títulos está na faixa de R$ 100 bilhões nos últimos 12 meses e existem estudos que indicam aumento de volume para R$ 300 a 400 bilhões até 2025.
Portanto, é importante que, em 2022, as empresas do agro busquem se adaptar aos novos modelos de negócios trazidos pelo mercado de capitais, através de uma melhor gestão do risco de crédito, com carteiras saudáveis, processos otimizados e digitalizados de seus recebíveis, a fim de buscarem recursos mais atrativos para os seus clientes.
Intensificação dos processos de Fusões e Aquisições
Quem está no agro sabe como, especialmente nos últimos cinco anos, temos visto um processo intenso de Fusões e Aquisições, que se iniciou no segmento de distribuição e da indústria de insumos e agora avança para uma nova onda, com foco no segmento de tecnologia e ferramentas de gestão para os diversos players da cadeia.
Como as perspectivas de crescimento do agronegócio no Brasil são altamente atrativas e os fundamentos são sólidos, o interesse em investir no setor não passa despercebido dos gestores de fundos nacionais e estrangeiros. A expectativa de crescimento do VBP (Valor Bruto da Produção Agropecuária) em 2021 é de 10%, sendo que a média da economia é de 4,5%.
Então, esses fundos buscam se aproximar do segmento através de alianças pelo processo de compras de empresas e fusões de negócios que se complementam e se tangenciam, a fim de provocar ganhos de escala e escopo, verticalizando e integrando processos complementares de produção.
Certamente, 2022 trará várias notícias de uniões e aquisições de empresas no agronegócio, com alianças e parcerias em todas as etapas da cadeia produtiva.
Subida dos preços das commodities agrícolas
Segundo dados da CEPEA/ESALQ, nos últimos 24 meses (entre janeiro/20 e dezembro/21),tivemos aumento relevante das cotações das principais commodities agrícolas no mercado interno. Vide alguns exemplos:
- Aumento médio de 94% no preço da soja (base Paraná);
- Aumento médio de 71% no preço do milho (base Campinas);
- Aumento médio de 195% no preço do café (posto cidade de São Paulo);
- Aumento médio de 134% no preço do algodão (posto São Paulo);
- Aumento médio de 65% no preço da carne bovina (indicador B3).
Esse aumento foi provocado por diferentes fatores, como desvalorização do câmbio e aumento crescente da demanda por importação de alimentos do Brasil.
Os movimentos dos últimos pregões de dezembro/21 na Bolsa de Chicago têm apontado para preços futuros elevados da soja e milho, em especial, devido à preocupação com a safra da América do Sul, como Brasil (ênfase na região Sul do Brasil e sul do Mato Grosso do Sul) e Paraguai, devido à escassez de chuvas que tem provocado queda de produção na Safra Verão.
Dessa forma, os estoques de grãos podem ficar em níveis históricos baixos ao longo de 2022, o que irá provocar tendência de aumento de preços das commodities agrícolas nesse ano.
Certamente, que existem beneficiados e prejudicados com esse processo. Os beneficiados são os produtores dessas commodities – a despeito do aumento dos custos de produção -, e os prejudicados os consumidores, que devem continuar com perda do poder de compra devido à pressão inflacionária.
Riscos de Guerra Comercial
A chamada “guerra comercial” pode ser relevante em 2022, já que estamos vivendo um momento de alta dos preços das commodities e a tendência dos países compradores é criar mecanismos, mesmo que artificiais, para achatarem os preços, a fim de se beneficiarem com maiores margens nas compras.
Certamente, não se pode desprezar o fato de 2022 ser um ano eleitoral no Brasil e que pode afetar as tomadas de decisões dos países compradores por fatores políticos.
Ampliação do uso de tecnologia e conectividade
A tecnologia aplicada ao agronegócio tem sido um vetor importante para o desenvolvimento do agronegócio e o chamado “Agro 5.0”.
Processos como a integração das fazendas, que se facilitará com a adoção da tecnologia 5G, para controle de produção, manejo de pragas, otimização da fertilização, controle de estocagem e armazenamento continuarão se expandindo.
E no ambiente corporativo, aumento da importância de decisões baseadas em dados (data driven),uso de modelos de tecnologias preditivas, a chamada IoT (Internet das Coisas) e machine learning para tomada de decisões de negócio.
Como principais desafios, temos a própria conectividade dos atores (fazendas, produtores, empresas, registradores e reguladores) e a busca de mão-de-obra especializada para esse segmento.
Governança ambiental
Existe uma preocupação cada vez maior dos consumidores, das empresas e dos investidores na questão ambiental. Portanto, a questão da sustentabilidade ambiental deve orientar cada vez mais os investimentos nos próximos anos.
A sigla ESG (Environmental, Social e Governance),ou ASG em português (Ambiental, Social e Governança),tem se tornado cada vez mais frequente no ambiente empresarial.
A COP-26, reunião realizada em novembro na Escócia, sugeriu metas para adoção de redução de emissão de carbono em todo o mundo.
No Brasil, tivemos um Decreto de outubro/21, o Decreto 10.828, que criou a CPR Verde e que será um dos instrumentos para que os produtores rurais que pratiquem adoções de preservação do meio ambiente possam se financiar.